A ETERNIDADE DAS PENAS DO INFERNO E O DESTINO INFELIZ

Ibunt hi in supplicium.



Irão ao suplício eterno.



(Mt., cap. xxv. v. 26.)

Há, no Cristianismo, uma verdade terrível, que, hoje em dia mais ainda que nos séculos anteriores, suscita no coração do homem implacáveis repulsoes. - Esta verdade é a das penalidades eternas do Inferno. - Ao enunciado deste dogma, a inteligência perturba-se, o coração encolhe-se e treme, as paixões endurecem-se e irritam-se contra esta doutrina e as vozes importunas que anunciam-o. - Seria necessario por conseguinte calar-nos, deixa-lo en olvido e cobrir com um grosso veo uma verdade essencial, em relação a ao interesse mais importante do homem, o do seu destino supremo além dos curtos anos do seu exílio sobre a terra ? - Mas se o Inferno é uma realidade, todo o silêncio que faríamos ao redor desta pergunta fundamental, não quebraria a sua certitude. Os reparos e dozuras da linguagem humana, não abreviariam a sua duração. O cúmulo da loucura seria persuadir-se de que desviando a nossa atenção desta possibilidade fatal, esforçando-nos en não cre-la, poderiamos um dia conjurar o seu rigor.

Não poderiamos omitir os suplícios de outra vida sem estar a traiçoar os nossos deveres, e mostrar-nos, como um médico infidel e enganoso, que a fim de poupar um cruel tratamento ao seu paciente, deixá-lo-ia tranquilamente morrer. Sobre este ponto Jesus-Cristo Ele mesmo não creu oportuno gastar de circunlóquios e reservas. Não cessa de insistir nas penalidades reservadas aos pecadores, fala em muitas ocasiões das trevas externas, desse fogo que não se apaga, desta prisão sem saída onde haverá ranjer de dentes, e onde as lágrimas não secarão.

Quando a justiça humana quer ejecutar um grande culpável, faz elaborar o cadafalso sobre o lugar público, e convida ao povo a assistir à este terrível espectáculo. Em várias regiões, deixa-se, dias inteiros os membros inertes do infeliz suspensos à estrada, ou lá onde tornou o seu último suspiro, a fim de assustar, por tal exemplo, os homens extraviados, ou que são tentados por paixões pecaminosas.

Jesus-Cristo procede como a justiça humana, mostra ao maldoso a espada suspensa sobre a sua cabeça, para que, aterrorizado, não transgrida a Sua lei, e que faça o bem, em vez de operar o mal.

Santo Ignácio de Loyola dizia que não conhecia predicação mais útil e mais frutuosa que a do Inferno. - A consideração dos encantos da virtude, as delícias e as atracções do amor divino, tem pouca tomada sobre os homens sensuais e grosseiros; ao meio das distracções tumultuosas onde vivem, exemplos contagiosos que lhes são dados, das armadilhas e as escolhos semeadas sob os seus passos, a ameaça do Inferno é o único travão bastante potente para conter-os sobre a linha do dever. - Pela mesma razão, Santa Teresa convidava freqüentemente os seus austeros religiosos a descer em espírito e pelo pensamento no Inferno durante a sua vida, assim de evitar, dizia, descer em realidade após a sua morte.

No estudo que vamos empreender sobre esta grave questao, do destino reservado aos homens morridos no ódio de Deus, evitaremos as opiniões controversas; procederemos com o rigor do raciocínio e as clarezas da grande luz teológica, tomando como apoio único as Escrituras, e a ciência autêntica da Tradição e os Pais.

- Primeiro, o Inferno existe? É certo que as penas que se suportam são eternas ?

- Segundo, qual é a natureza dos suplícios do Inferno e onde está tal lugar ?

- Em terceiro lugar, a misericórdia de Deus pode conciliar-se com a ideia de uma justiça, que nenhuma satisfação chegará a desarmar ?

Nenhum homem deberia aplicar-se ao estudo destas elevadas considerações sem propôr-se ouvir no mais secreto de si estas palavra contidas nas Escrituras: "Toma cuidado, serve o Senhor o Teu Deus, e observa os Seus Mandamentos, porque são para todo homem."

"Quem medite nestas verdades terríveis seguramente voltara-se melhor; sentirá imediatamente o seu espírito transformar-se, e o seu ser aumentar-se na energia da virtude e o amor do bem.





I

A eternidade das penas é uma verdade formalmente ensinada pelas Santas Escrituras; faz parte do dogma cristão; um grande número concílios definiu-o como artigo de fé[ 1 ].

São Mateus, Cap. xviii, São Joao, Apoc. Cap. xiv, falando das penas dos demónios e rejeitados, dizem que terão uma duração sem límites [ 2 ] .

São Marcos, Cap. ix, e Isaias, Cap. lxvi, dizem que o seu fogo não se apagará, e que o seu verme não morrerá. - São Agostinho, citando estas palavras, observa que pode-se discutir sobre a natureza deste verme, sobre a materialidade ou inmaterialidade deste fogo, mas o que continua a ser referido pela palavra do profeta, está ao abrigo de qualquer controvérsia, é que os ardores deste fogo nunca serão moderados, e que as torturas deste verme não irã0 nunca diminuindo-se [ 3 ] .

Jesus-Cristo, falando da sentença suprema que pronunciará um dia, conserva e estabelece a mesma paridade entre a justificação e a condenação; não distingue, quer nas recompensas do justos, quer a punição dos ímpios, nenhuma medida nem nenhuma diferença de tempos. - "Aqueles irão ao suplicio eterno e os justos à vida eterna" [ 4 ] "- Por conseguinte, se a vida eterna não deve ter um limite de tempo, a morte eterna será, ela também, ilimitada e sem fim."

Resulta destes diversos testemunhos, que a misericórdia é excluída dos Infernos, e que redempção não tem lá acesso. Quia in inferno nulla est redemptio. - Do resto, rejeitados e os demónios não poderiam liberar-se para a justiça, e obtenir a remissão ou a mitigação das suas penas, apenas por três meios: ou por verdadeira e sincera penitência; ou pela virtude das orações dos santos e as obras satisfactorias oferecidas pelos vivos; ou ainda pela destruição dos seus seres; Deus, na impossibilidade absoluta que é recebe-los, no Seu seio, retirando-lhes a existência, faria cessar de facto os seus tormentos; - ora, rejeitados não o podem fazer penitência.

- Deus nunca concediu o perdão a Satan porque Satan nunca arrependeu-se. - Chega, diz Santo Tomás, que se arrepende e que odeia-se o pecado de duas maneiras: absolutamente ou accidentalmente. O que odeia o pecado absolutamente, odeia-o devido à sua deformidade intrínseca, e porque é uma ofensa a Deus; o que odeia-o acidentalmente, odeia-o, não por amor a Deus, mas por amor de ele mesmo: ou seja, que não odeia realmente pecado, mas a penas e os mais que ele occasiona. Ora a vontade dos condenados continua a ser inclinada ao mal, e o horror e o detestação das suas penalidades não é nem arrependimento, nem o expiação [ 5 ] - São consumidos sem dúvida por desejos e sonhos; mas estes sonhos têm por objecto uma felicidade à eles e que constituir-se-iam independentemente de Deus. Tal é o sonho dos demónios e o dos condenados, sonho eternamente estéril e que consome-os num desespero e uma exasperação sem fim. Os condenados não podem por conseguinte arrepender-se. - São eles susceptíveis de participar nas orações e os méritos dos vivos ? Se fosse assim. Lucifer e os seus anjos seriam susceptíveis, clãs um tempo mais ou menos afastado, (girar-se para o bem: e tornar-se-iam portanto seres santos, dignos de veneração e amor, assim como querubins e os arcanjos que abraçariam um dia em eterna communiao. Resultaria ainda que a Igreja deveria orar pelos demónios. Os demónios são à verdade os nossos piores inimigos, mas o preceito da caridade prescreve-nos de orar, sem exclusão, para todos os inimigos. Ora, a Igreja ora aqui abaixo pelos seus perseguidores, pela razão que, durante a vida presente, podem produzir dignos frutos de penitência; mas mesmo ao dia do julgamento, consumida em amor e santidade, não rogará pelos homens condenados pelo Justo Juiz a eternos tormentos. - Se os rejeitados podem esperar um dia salvação, não somente a Igreja deve orar por eles, mas além disso, não vemos porque abster-se-ia de conceder-lhes um culto, e não recolheria os restos de Néron, Robespierre e Marat, para honra-los sobre os altares, ao mesmo título que as cinzas do Luis de Gonzague, Vincente de Paul, do Francisco de Asis.

Por último os sofrimentos dos rejeitados não se esgotarão, e nunca será destruído o seu ser.

As santas Escrituras descrevem o seu estado lamentável gritando o apelativo de: "Secunda mors" "segunda morte." "Será, diz São Gregório o Grande, uma morte que nunca será consumida, um fim, sempre seguido de um novo início, uma constancia que não conduzirá nunca a nenhum alívio [ 6 ] . "-

São Agostinho não exprime com menos força e clareza, a triste condição desta morte que, deixando eternamente subsistir a alma, lhe fará suportar as suas afrentas e os seus horrores em toda a sua intensidade." "Não se pode dizer que haverá no inferno a vida da alma, dado que a alma não participará em nenhuma maneira da vida sobrenatural de Deus;" não se pode dizer que haverá a vida do corpo, dado que estará presa à toda espécie de dores. - Por ela mesma, esta segunda morte será mais cruel porque a morte não poderá pôr-lhe fim [ 7 ] .

Acrescentam à estas provas teológicas as provas da razão

Se não houvesse um Inferno eterno, o cristianismo desaparece, e a ordem moral é suprimida.

Esta verdade da eternidade das penas é essencialmente ligada às verdades substanciais da religião, à queda do homem, à Encarnação, Redempçao, que implicam logicamente a certeza. - Se não houvesse Inferno, por que Jesus-Cristo teria descido do Céu, porque as sua incarnação en ser humano, as suas ignomínias, os seus sofrimentos e o seu sacrifício sobre a cruz ? - Este excesso de amor de um Deus que faz-se homem para morrer teria sido uma obra privada de qualquer sabedoria, e sem proporção com o fim proposto, se tivesse-se tratado de redimir-nos simplemente de uma penalidade temporal e momentânea, tal que é-o o Purgatório. - O homem por conseguinte tinha caído numa desgraça irreparável e tinha sido danado com uma desgraça infinita, dado que ele so podia ser unicamente salvado por um remédio divino. - Diferentemente seria necessário dizer que Jesus-Cristo não nos libertou mais que de uma penalidade finita, da qual teríamos podido liberar-se pela nossa própria conta, e neste caso os tesouros do Seu sangue não seriam supérfluos ? - Não haberia então mais Redempçao, no sentido estrito e absoluto de esta palavra: Jésus Cristo não seria mais o nosso Salvador; o tributo de gratidão e de amor sem limites que exige dos homens seria uma pretensão excessiva e inmerecida.

- Deus ficaria plenamente destronado dos nossos corações e das nossas adorações, o Cristianismo tornar-se-ia impostura, e qualquer espírito consequente necessariamente é induzido de rejeitar a Revelação e a Deus mesmo.

Se não há um Inferno eterno, não existe mais uma ordem moral.

O fundamento da ordem moral, é a diferença absoluta e essencial entre o bem e o mal. O bem e o mal diferem esencialmente, porque têm conclusões diferentes e concernem a fins opostos, nao, se suprimimos a sanção eterna (as penalidades, o defeito e a virtude chega ao mesmo termo: os dois, por vias diferentes, atingem o seu fim último, que é o descanso e o gozo na beatitude de Deus. O mesmo destino cabe então aos que forom os instrumentos do mal e aos que forom até à fim os órgãos incorruptíveis do bem.

Dir-nos-á: pero, mas será mil, cem mil anos mais cedo para o justo; mil, e cem mil anos mais tarde para o ímpio. - Que importa ? - Uma duração expiatória, tão longa como isto supunha, não constitui, para o destino do um e do outro, uma diferença essencial. Durante a nossa vida efémera e fugitiva, onde os momentos uma vez escoados não reaparecem nunca mais, mil, cem mil anos, não tem maior importância; nao, logo que o homem entrou na eternidade, mil, cem mil anos, não têm mais significado: são não mais que um grão de areia no deserto, que uma gota de água no océano. - Imaginem um futuro de suplícios, tão longo como queiram, no que se duplicam os anos, amoream-se os séculos sobre os séculos, logo que o fim for o mesma para todos, o passado não conta mais para nada. Uma vez a penalidade é terminada, a medida da sua duração, comparada com a medida da eternidade, aparecerá uma quantidade tanto mínima, tanto centesimal, que será como se não existisse.

E dado que entre uma eternidade e uma eternidade, não há diferença perceptível, seria verdadeiro dizer que pecado não prejudicou ao pecador. - Por exemplo, que Deus, para punir dos meus crimes memergulha- nas chamas durante séculos, eu consolo-me.... sei que tenho para mim, uma medida matematicamente igual à do justo..., tenho a eternidade... Por conseguinte eternidade de gozo e glória para o que tenha servido a Deus e o amado até morrer; e eternidade de gozo e glória para o malvado que viviu fazendo a iniquidade e constantemente pisou aos seus pés as Leis e os Mandamentos divinos.

- Ora se as duas conclusões são o mesma, se pela estrada o mal, como pela estrada do bem, chega-se infalivelmente à vida, a vida durante uma eternidade, é necessariamente preciso concluir, que a virtude e o crime são duas vias de uma segurança igual, que é facultativo ao homem abraçar uma ou o outra à sua vontade, e que a vida mais sujada, como a vida mais pura, é do mesmo mérito e da mesma dignidade, dado que a uma e a outra são o princípio de uma mesma perfeição e uma mesma felicidade.

Neste sistema admitido, não tem mais sobre a terra, nem moral, nem ordem pública, nem sombra de probidade. - A justiça é queda sem a sua sanção, a consciência é um prejuízo, a virtude e o sacrifício são um esforço estúpido. - Retirem à humanidade o temor das punições eternas, e o mundo preenche-se de crimes, os crimes mais execráveis tornam-se um dever, toda vez que podem adular-se de escapar à prisão e à espada. O Inferno apenas anticipado; em vez a ser adiado à vida futura, será inaugurado na humanidade, a partir da vida presente. Um escritor de hoje em dia disse: "Somentes tem havido um remédio para a sociedade: ou Deus ou o revólver. "- Se não há nenhuma sanção além desta vida, a força prevalece sobre o direito, o verdugo torna-se a chave e o eixo da ordem social, e a justiça será proclamada em nome da morte, a falta a ser proclamada em nome de Deus." - "Do resto, observa outro moralista, em virtude de qual direito os tribunais combateriam o crime, quando tem para si a consagração da impunidade divina, e que a justiça eterna compromete-se de não sair do seu descanso, para infligir-lhe o seu legítimo castigo?" [ 8 ]

A consciência dos povos levantou-se contra esta consqüência monstrosa. No meio do desencadeamento dos erros, da queda das verdadeiras crenças, a doutrina de um estado futuro de castigos e de recompensas resistiu de pé. Reencontra-se em pagãos. Virgile foi o intérprete da crença em estes versículos famosos:

Sedet aeternumque sedebit infelix Theseus. ( Em VI, 618.)

Rostroque immanis vultur obunco

Immortale jecur tondens...

Nec fibris requies datur ulla renatis. (VI, 597.)

"os pobres malvados cuja alma é incurável", diz Platon (Phd., p. 144) "atormentam-se com punições que agitam-os sem cura-los."

- As almas que cometeram grandes crimes são precipitadas em abismos que nomeiam-se o Inferno. - Tal é o julgamento dos Deuses, que habitam o céu: os bons são reunidos com os bons, e os maldosos com os maldosos.

É surpreendente, este acordo entre todos os homens, poetas, filósofos, povos, reis, civilisés, bárbaros, sobre esta verdade que perturba os nossos pensamentos e que os homens teriam tanto interesse em negar. Seria o lugar de parar-nos sob a autoridade e o peso deste axioma fundamental: Quod semper, quod ab omnibus, quod ubique; O que foi crido sempre, por todos, e por toda parte, é necessariamente a verdade. Todo dogma foi alterado excepto este; todos os pontos importantes da teologia católica deram lugar à discussões; o Inferno escapou à esta lei comum; veio até nós, sem encontrar, sobre esta longa estrada, um espírito que contestasse a justiça, nem quebrasse esta formidável certeza. "Os protestants que negaram tantas coisas, não negaram esta." Destruidores de o que levava mais sombra ao sentir humano, da penitência, a virginidade, a eficácia das boas obras, não cortaram do Inferno a sua fisionomia aterrorizante. A sua mão parou-se neste limiar da dor, eles que não tivessem respeitado a porta do Tabernáculo, onde descansa, na bondade e o sacrifício, a carne do Homem Deus [ 9 ] ...

O racionalismo contemporâneo é o único que cuestionou esta negação, e, coisa estranha, fez-o refugiando-se no seio mesmo das perfeições infinitas. Armou-se contra a justiça de Deus, a Sua grandeza, da Sua sabedoria; e o que nega Redempçao, recorre a este excesso de amor, que Jesus-Cristo, expirando, fez estoirar sobre a Cruz.

"Deus," diz, "é um Ser demasiado perfeito, demasiado sublime, demasiado desinteresado para querer esmagar eternamente, sob os raios da Sua potência, uma frágil criatura, induzida ao mal por indução externa ou por fragilidade." Seria lá uma vingança, uma represália indigna da Sua gloire e as Suas perfeições." "Responderemos que se o crime fosse impune, a grandeza cessaria de ser o privilégio de Deus, ela pertenceria legalmente ao homem maldoso." Então teria Ele, apenas por un actos da Sua vontade, de fazer triunfar a revolta no governo divino. Deus então ter-se-ia embalado de um sonho, o dia em que, saindo do Seu descanso para a Sua gloria, teria estabelecido esta lei fundamental, que a criatura deve ir para Ele por cada um das suas aspirações, servi-lo e o ama-lo com actos constantes de elogio, de dependência e de adoração. Deus não seria mais o nosso fim essencial e último.

Admitam , com efeito, como ousaram apoiá-lo alguns, que o Inferno é simplesmente um lugar de aborrecimento e de tristeza, onde a alma cativa sujeita apenas a um sofrimento amaciado e limitado. - figurem, nesta suposição, Satan e os seus cúmplices que preenchem a medida e da sua revolta e o seu orgulho, dizendo ao Deus que rejeitarom: "estamos num estado e em possessão de uma existência bastante tolerável para consentir de passar-se eternamente sem Você. A verdade, somos longe de possuir a beatitude perfeita, mas temos uma medida de vida e de descanso que é nossa obra exclusiva, e nos satisfazemos; se não somos brilhantes como os teus anjos, pelo menos não somos os Teus serventes, e a Você não servimos. Não te obedecemos." Tal seria a linguagem de qualquer criatura excluída do seio de Deus se chegasse a escapar ao seu destino, sem estar a sentir uma dor imensa, infinita, como o benefício que tem livre e obstinadamente desprezado. Para amaciar a miséria dos demónios e rejeitados, Deus deixar-lhes-ia apenas uma sombra de bem, unicamente uma frágil esperança, uma gota de água destinada a refresca-los; aderir-se-iam à esta sombra, esta aparência, com toda a energia da sua vontade esgotada e haletante; armar-se-iam de ardor nesta parcela de alívio, procurando seduzir-se e equivocar-se sobre a extensão e a profundidade do seu infortúnio. - E é necessário não conhecer o coração do homem, para figurar-se que não se renunciaria a este Inferno mitigado, antes que dobrar o joelho.

Se por conseguinte o Inferno não é um dilúvio e abatimento de inefáveis e eternos sofrimentos, fazendo sentir ao culpável todo o peso da Mão que pune-o, na luta do bem e o mal, o homem continuará a ser victorioso e o Mestre do Céu seria vencido; qualquer joelho não dobrará na frente de Ele, como Ele tem predito. -É pois de toda necessidade, para a glória divina, que o homem que o ultraja mostrando-se obstinadamente e sistematicamente rebelde, seja sujeito a tormentos extremos, sem fim, incompreensíveis e em equação com a glória divina ofendida. É necessário que suporte rupturas e dores sem mistura, acompanhadas de uma separação absoluta e total de qualquer criatura em estado de recreá-lo e distrai-lo, das dores que envolvem-o, não deixando-lhe ver, acima da sua cabeça, aos seus pés, ao redor de ele, senão desolação e terror; e isto assim para que reconheça a grandeza do Deus que ignorou, e que no excesso da sua aflição lhe outorgue a homenagem que não pudo obter a bondade, da mesma maneira que gritar como Julião o Apóstata na sua morte: tu vencistes, Galileo.



Sem dúvida, este estado de suplício sem alívio aterroriza os nossos pensamentos, mas é a sanção necessária do governo divino ; um inferno temporário, como o Purgatório, não poderia ser suficiente para assegurar a ordem e a sançao. - Em efeito, quanto é de homens, nesta vida, que tenham preocupação do Purgatório? Quantos cristãos sem generosidade e sem coragem, subscribir-se-iam de boa vontade à mil Purgatórios, a fim de satisfazer os seus desejos de um momento. -Um filósofo Alemão que discute um dia com um dos seus amigos dizia: "para obter a realização de tal desejo, de tal projecto de ambição após o qual suspiro, daria voluntariamente dois milhões da minha felicidade eterna. O seu interlocutor respondeu-lhe: "são singularmente moderados os sacrifícios que oferece."- O home considera-me apenas o que é infinito: que uma criatura oferece-se à ele com o sorriso e o encanto da sedução, imediatamente dota-a deste todo infinito, contido nas suas afeições e os seus sonhos, faz descansar sobre ela o ideal e o encantamento de uma felicidade gigantesca e ilimitada; eh bem, oposto deste infinito, sensível, vivo, palpable, que dá a febre ao seu coraçao, acende um fogo que devora os seus sentidos, põe como contrapeso uma penalidade de uma duração infinita, da qual a ameaça se monstra à ele num futuro remoto e indeterminado, representado de maneira confusa, e cujos adula-se de conjurar o seu rigor antes da morte, ele dizemo-nos, este Inferno temporário aparecerá a este homem uma compensação modesta dos gozos sem medida que promete-lhe um minuto de poder ou de voluptuosidade. - arriscará todo, porá no seu desafio os mil milhões e os mil milhões de séculos que ameaçam-o, figurar-se-á ganhar uma boa parte; a menos que seja a eternidade, não duvidará nem sobre o grau nem sobre o tempo. O que não admite isto nunca sondou as profundidades da natureza humana; para um ser immortal, é necessário esperanças e temores que sejam ao seu nível; todo o que não é eterno desaparece frente da irrefrenável imensidade dos seus desejos sua désirs [10 ].

Nossa demonstração da eternidade fica ja estabelecida, dizemos agora quais são as penalidades, qual a sua intensidade, e o lugar onde os demónios e os reprobados suportam-nas.





II





As penas suportadas pelos rejeitados são: umas privativas, as outras positivas. As penas privativas consistem no suplício do dano, ou seja na perda de Deus; as penas positivas no suplício do fogo. São Agostinho diz-nos que a pena de dano é de todas as penas do Inferno a mais terrível e a mais incompreensível; ante as lamentações e desespero que suscita, os outros sofrimentos não merecem mesmo o nome: Plus torquetur cœœlo quam gehenna.

O rejeitado tem a certeza que perdeu Deus, que não pode mais unir-se a Quem o creou; é privado da possesão do Soberano Bem e a vista da Infinita Beleza, e esta consideração causa-lhe uma dor tão acerba, que seria suficiente, ela soa, para acender as chamas que o consomem. Durante a vida presente, entorpecidos pelo nosso envoltório terrestre, ficamos distraidos e extraviados pelo espectáculo das coisas sensíveis, não podemos apreciar a imensidade tal perda; mas quando a alma, pela morte, é separada da universalidade das criaturas, ela não tem mais nenhum objecto sobre o qual ela possa se compracer; Deus aparece ante ela como o Único Tesouro e o Único Fim; e precipita-se para Ele com toda a impetuosidade dos seus desejos; concentra, sobre esta Divina Beleza, toda a sua força, todos os ardores e a plenitude das suas aspirações. Figura-te um peixe lançado fora do seu elemento líquido, uma agulha magnética oscilando com uma oscilação não interrompida, sem chegar a fixar-se na direcção do seu pólo, uma locomotora fora dos rais, e lançada no espaços em precipitada carreira; todas as semelhanças reconstituem-nos apenas imperfeitamente o indicible estado de uma alma chanfrada, extraviada distante do seu fim, e danos a impotência de não retornar nunca na sua via. - não tem mais futuro para ela. - o poeta teólogo da Idade Média via escritos em carácteres pretos, à porta dos lugares sombrios e malditos do Inferno estas significativas palavras: "por mim vai-se à cidade das lágrimas, por mim vai-se ao abismo das dores. a justiça animou o meu Sublime Criador; sou a obra da Divina Potência, da Elevada Sabedoria e o Primeiro Amor... Oh vocês que entram aqui, abandonem qualquer esperança [11 ]." Que há certo, e que ensinam todos os teólogos, é que os demónios e os rejeitados são privados de qualquer graça e qualquer iluminação sobrenatural. A este ponto de vista, são mergulhados nas trevas e danados com uma incurável cegueira; mas de modo algum deterioraram nas suas forças e o uso das suas faculdades naturais, permanecem em possessão das ciências especulativas que tivessem adquirido, eles são mesmo susceptíveis de adquirir experimentalmente novos conhecimentos. No meio seus tormentos, a sua memória não perde a sua firmeza, a sua inteligência conserva a sua penetração, e a sua vontade a sua energia e toda a sua actividade; nenhuma de todas as faculdades e todas as aptidões naturais, que Deus deixa em eles para aumentar as suas punições, são falseadas no seu objectivo e a sua direcçao, não podem mais desejar para objectos honestos, úteis e sérios. A razão é que o honesto, a beleza, o útil, são reflexos e uma participação dos divinos atributos, e a alma separada de Deus sem remédio deixa de ser susceptível desta participaçao.

-Como diz Suárez, o juiço dos condenados fica sem rectidão prática para todo o que tem que ver com a norma dos seus pensamentos, os seus desejos e a sábia prescrição das suas acções [12 ].

- Curvados sob o peso da maldiçao, os demónios e os rejeitados já não podem unir-se à Verdade, e o seu espírito não aspira mais que a alimentar-se de ilusões e mentiras; o coração desregrado não pode abrir-se ao amor e morre corroído pelo ódio; a sua imaginação seu é sitiada por espantosos fantasmas e terrores que incessantemente reaparecem.

Nos séculos de fé, quando um ministro dos altares tivesse atraiçoado os seus compromissos sagrados e tivesse-se tornado gravemente culpável, era conduzido ao santuário e sujeito à pena da degradaçao. -O pontífice quitaba-lhe as suas insígnias: retirava-lhe a aurea símbolo de inocéncia; a estola, sígno da sua jurisdição sobre as almas; a casula, misterioso emblema da sua personificação com Jesus-Cristo, e dizia-lhe: sejam retirados estes ornamentos dos que você é indigno.

- Os cristãos rejeitados são sujeitos à uma degradação análoga; Deus, abandona-os no momento em que consumiu-se o seu fim infeliz, retira-lhes todo o que permanece neles de virtudes teologais, tals que a fé e a esperança. Ele retira-lhes as suas virtudes morais, a força, a prudência, a justiça, a moderação, e as outras qualidades naturais, como a generosidade, a fidelidade às leis da honra, a cortesia e a distinção das maneiras, virtudes das quais abusaram para manter neles o orgulho e as suas complacências culpáveis. Não deixa subsistir nenhuma trace de perfeição naqueles que rejeitou. Assim os condenados são seres profundamente degradados; não são já susceptíveis de respeito, de nenhum amor, de nenhuma compaixão. Como separados do Soberano Bem, ficam soberanamente detestáveis, e, como os demónios, não saberiam inspirar outro sentimento que o horror e a execraçao.

- A fim de melhor conceber o seu destino lamentável, imaginemos uma cidade onde são aglomerados os Cain, os Nerón, todos os malvados que sujaram a terra e de quem a justiça humana desfaz-se relegando-os ao fundo das prisões e os cabozos; supõe-se ademais que, nesta cidade, não houve nem polícia, nem soldados, nem força pública, a fim de impedir estes desgraciados entrematar-se, e ferir-se entre eles. Eh bem! Este é o Inferno, como descreve-nos o profeta Job: "Ubi nullus ordo, sed sempiternus horror inhabitat [ 13 ];" uma habitação na que não há ordem e onde reina um horror eterno." Tal é a pena de dano. Os que tem perdido Deus, os condenados perderom, de facto, qualquer esperança, qualquer dignidade, qualquer consolaçao. A segunda pena do Inferno, é a do fogo; este fogo é da mesma substância e da mesma natureza que o nosso, ou bem, como alguns querem-no, é um fogo imaterial, um simple efeito da viva dor causada à alma pelas lamentações da sua perda?

- Como dissemos-o, as santas Escrituras mencionam constantemente a pena do fogo, quando falam dos suplícios dos rejeitados. Como empregam esta expressão sem o accompanhar cum termo restritivo, não há nenhuma razão de interpreta-lo em senso metafórico e desfigurado. Sobre este ponto, a doutrina de Santo Tomé é de uma precisão notável. "De alguma maneira que se imagina o fogo do Inferno, é certo que, considerado em ele mesmo, e quanto à sua substância, é material, e da mesma anatureza que o nosso, tão aos seus efeitos, e por relação aos corpos sujeitos à sua acção, pode-se fazer que seja de uma espécie diferente. - Assim o carvão e a chama, a madeira ardente e o ferro vermelho e incandescent, não se diferenciam, tão ao elemento calorífico que penetra-os e tão ao seu estado de ignição, mas, apenas, quanto ao modo de recepção. - O ferro entra em fusão pelo efeito de uma comunicação externa; o enxofre, ao contrário, entra em combustão pela virtude de um princípio que lhe é íntimo e inerente; assim não ha dúvida de que considerado em ele mesmo, o fogo do Inferno não seja de mesma espécie que a nossa; mas tão dizer que subsiste em ele mesmo, ou numa substância estranha, não podemos afirmar nada sobre estes ponto [14 ]."

De acordo com o Doutor angélico, o fogo do Inferno tem o mesmo princípio que o fogo terrestre, ele distingue-se do nosso pelas suas propriedades e o seu destino. O fogo da terra é um dom da Providência, foi criado para o nosso uso; o fogo do Inferno é um instrumento da divina Justiça, é criado para punir. - O fogo da terra queima e consome, o fogo do Inferno queima sem destruir nem consumir. - O fogo da terra divide os órgãos, e dissolve as carnes em cinza e em vapor, o fogo do Inferno é comparado com o sal por São Marcos, omnis enim igne salietur [15 ], ou seja que alimenta e consolida as carnes queimando-as. - O fogo da terra é sujeito a apagar-se, se não for mantido pela madeira ou doutras matérias combustíveis; o fogo do Inferno mantem-se de ele mesmo, e subsiste sem estar a ser alimentado, e se é necessário aceitar o testemunho de Lactance, "Não deixa emanar nenhum fumo, é puro e líquido, similar um lago e um estanque [16 ]".

Os rejeitados serão ergulhados lá como o peixe no mar, embebidos de ardores devorantes que não embotarão nunca a sua sensibilidade. Quis poterit habitera de vobis cum igne devorante [17 ].

Uma dificuldade permanece por esclarecer: um fogo de uma natureza material pode agir sobre as almas separadas do corpo e sobre puros espíritos? Santo Agostinho, liv. xxi da Cidade de Deus, Cap. x, procura resolver a objecção: "porque diriamos não embora o modo seja incompreensível e inefável, qu a pena corporal do fogo pode afectar os espíritos incorporais? Se, em efeito, os espíritos dos homens puros de qualquer matéria podem, a partir de aqui abaixo, ser fechados em membros corporais, se, após a morte, podem outra vez ser unidos a estes mesmos corpos por relações indissolúveis, os espíritos dos demónios, embora sem corpos, não podem ser unidos para seus suplícios à fogos corporais? [18]"

O teólogo Lessius, no seu tratado das divinas perfeições, dá esta outra explicação: "a faculdade sensitiva da qual são dotados não é distinta da essência da nossa alma, e subsistirá muito inteira após a morte. Se o fogo, pelo seu próprio calor, pode fazer sentir a sua acção ao espírito do homem pelo intermediário do corpo, porque este mesmo fogo, agindo como um instrumento de Deus, não poderia afectar ao espírito imediatamente? - Quando un homem é queimado, o corpo é apenas um meio de transmissão para aplicar o calor ao espírito; porque na ordem actual, sem a presença do corpo, a alma não poderia exercer a faculdade que tem de sentir; mas Deus age directamente quando quê-lo, e pode à Sua vontade substituir à ausência de um meio ou preencher Ele mesmo o efeito de um meio qualquera [19 ]."



Por último, uma última pergunta, qual é o lugar do Inferno? Se tomamos literalmente diversas passagens das Escrituras e se nos unimos ao sentimento geral dos teólogos, o centro da terra é o lugar onde são presos os rejeitados e onde, após a ressurreição, habitarão com os demónios.

- São Lucas, Cap. viii, chama ao Inferno Abyssus, abismo. - São Joao, na Apocalipse, diz "o anjo fechou o diabo nas profundidades do absimo [20 ] ". - Chama-o ainda " o lago de fogo [21 ] "- o Inferno inferior." - São Gregório o Grande diz: "Esta estada é chamada o Inferno, porque em réa"acamado, é o lugar situado mais abaixo: lnfernum appellari, eo quod infra sit."- Hugues de Saint-Victor acrescenta:" Este lugar inferior, preparado para as penas dos condenados, se encontra no interior da terra [ 22 ]." São Tomas enuncia o mesmo sentimento: "ninguém ", diz, "menos a ser instruído directamente pelo Espírito Santo, poderia saber de uma certeza absoluta o lugar onde estão os rejeitados" mas quanto à sua opinião pessoal, exprime-a com o seu estilo nervoso e didáctico, e com uma argumentação incomparável: "os mortos condenados", diz, "perderam-se pelo amor desreglado dos prazeres carnais, é por conseguinte justo que o mesmo destino dos seus corpos, cabe também à sua alma. Os corpos forom soterrados sob a terra, é por conseguinte justo que a alma também seja fechada nas profundidades da terra. - Para o além, a tristeza é ao espírito que ele gravidade é ao corpo: a alegria ao contrário é à alma o que a ligeireza é à matéria. - De mesma forma que, na ordem dos corpos às partes mais baixas são onde os corpos tem a gravidade, assim na ordem dos espíritos, às regiões mais baixas são também as mais tristes: resulta por conseguinte, que o lugar que convem à alegria é o Céu Empíreo e o lugar que convem à tristeza o centro da terra" [23 ].

Citemos por último o raciocínio de Suarez que completa, e dá uma nova clareza ao de São Tomas: "o Inferno", diz, "é uma prisão que servirá ao mesmo tempo de estada, aos anjos rebeldes e demónios; esta estada pode ser apenas mais incómoda, mais escura, mais ignominiosa de todas as estadas criadas; convem que seja no pólo oposto e à distância extrema de as destinadas aos eleitos. Ora os eleitos reinarão eternamente na parte mais elevada do Céu, que é o Céu Empíreo, e consequentemente a parte mais baixa da terra é onde Lucifer e condenados sofrerão os seus eternos tormentos." Observamos, no entanto, que não é certo de uma certeza de fé, que o Inferno seja situado no centro da terra; a Igreja não tem nada definido sobre este ponto, é mais simplesmente a opinião fundada sobre o testemunho da quase a unanimidade dos Doctores e dos Pais. Seja como for consequentemente, o essencial, diz São João Crisóstomo, é de modo algum conhecer onde encontra-se o Inferno, senão tomar os meios necessarios para um dia não ser precipitados lá, já condenados sem remédio, ne igitur quœœramus, ubi sit, sed quomodo eam (Gehennam) effugiamus [ 24 ].

Tal parece, por conseguinte, ser o lugar do inferno [25]. - O fogo que tortura aos renegados e rejeitados é um fogo material: este fogo material faz sentir a sua acção aos espíritos e as almas separadas. - Permanece-nos considerar como a severidade implacável da justiça divina pode-se conciliar-se com a Sua misericórdia infinita.









III





Um homem de espírito dizia um dia falando dos maldosos: são um grande embaraço em este mundo e no outro. Este embaraço extremo, que as sociedades humanas sentem em relação à certos culpados, pode-se dizer, que num sentido, Deus o sente com mais vivacidade ainda a respeito do homem pecador. É de fé que Deus quer a salvação dos homens, e que tanto quanto é nEle, não exclui ninguém dos frutos Redempçao. não é voluntariamente que criou o Inferno; pelo contrário, esgota todos os meios da Sua sabedoria e todos os segredos da Sua ternura, a fim de nós avisar contra tal desgraça; Ele nous diz pela boca de Isaias: Quid est quod debui ultra facere vineœœ meœœ et non feci [26 ]

- Se Deus fosse susceptível de sofrer, nenhuma angústia não seria comparável às que sente o Seu Coraçao, quando é obrigado a condenar uma alma. O santo Cura de Ars diz um dia: "se fosse possível à Deus sofrer condenando uma alma, é apreendido do mesmo horror e o mesmo estremecimento, que uma mãe reduzida a deixar cair ela mesma o cuitelo da guilhotina sobre o pescoço da sua criança." Contemplemos a Jesus-Cristo na Última Cena; contempla Judas com olhares onde penteiam-se a tristeza e mais a amarga desolação, é em uma perturbação convulsiva, e no último excesso da consternação; compreende melhor que nos poderiamos nunca concebê-lo, quanto é horrível o estado de um homem condenado, perdido sem remédio, deixado sem nenhum meio para retornar sobre o seu caminho e colher as rédeas do seu destino. Tenta todos os meios imagináveis para conjurar a perda deste miserável; lança-se aos seus pes, beija-o; admite-o, apesar da sua indignidade, ao banquete da sua carne consagrada... e quando as trevas que invadem cada vez mais a alma obstinada de Judas obstruíram todas as avenidas por onde a graça divina teria podido traçar-se algum acesso, Jesus-Cristo chora, parece esquecer que o traidor escolheu-o como a vítima da sua cobarde avarícia; vê apenas o horror da sua sorte, Ele diz com angústia: "bem teria valido melhor a este homem que não nascer jamais [27 ]." Oh vocês que acusam ao Criador de dureza, e acusam-lhe que não vá até ao limite extremo de toda a Sua omnipotência, para impedir à sua criatura perecer eternamente, indiquem por conseguinte o vosso meio e ensinem o vosso segredo. Que quer que faça Deus?



Pediriam que suprimir o inferno?... Suprimir o inferno, seria suprimir o Céu. crêem que mártires, anacoretas, a Virgem, os santos que gozam à esta hora das alegrias da beatitude, ter-se-iam subtraído às seduções, que teriam pisado aos pés as tentações mundanas e procurado as solidões, suportadas as perseguições, enfrentados aos verdugos e à espada, se não tivessem tido presentes as palabras do Mestre: "não temam aqueles que não podem fazer perecer mais que o corpo; mas temam Aquele que pode precipitar a alma e o corpo "no forno de fogo" [28 ].

O amor divino despertou-se so neles quando, por corajosas violências, afastaram-se do pecado e dos hábitos sensuais. O ponto de partida da sua justificação foi o temor : Initium sapienti? timor [29 ]. O trovão que agitou-nos do seu sono e a sua letargia, foi la palavra temível: ETERNIDADE... Lançaram então um olhar sobre as suas suntuárias habitações, sobre os taboleiros dourados dos seus palácios, e dissem: é lá que amassamos todos os dias os tesouros da cólera, que todas as seduções dão-se encontro para perder-nos. O ódio de Deus, as chamas, uma maldição sem fim pelo prazer de um dia, aí está esperando-nos...

O dia seguinte estes homens punham-se os pés nus, estavam cobertos com um saco e procurabam a estrada que conduz as solidões e os desertos.

- Sem este misericordiosos terrores, a cidade de Deus nunca ter-se-ia preenchido; todos ter-nos-iamos extraviado nas nossas vias; nenhum homem teria feito o bem, non est qui faciat bonum, non est usque ad unum.

Deus não pode suprimir o Inferno sem estar a suprimir o Céu; queremos então que espere, que perdoe, que perdoe incessantemente? Mas é que faz. Nesta vida nunca retira-se daquele que mesmo se afasta de Ele. Ele segue-o em no santuário da sua consciência, por uma voz interior que não cessa um único momento de fazer-se entender. Em face tentação que nós chama ao mal, esta Voz grita com estrondo: toma guarda... se são surdos, Ele não se acelera, como teria o direito, de cortar o fio dos nossos dias; Ele não espia o passo do momento dos nossos incumprimentos para faze-lo o momento supremo da nossa morte; volta sempre à nós; faz-nos sentir o aguilhão do remordimento, não se ofende com as nossas recusaçoes, espera anos. Ele deixa a maturidade da idade suceder ao entusiasmo da adolescência, os gelos da velhice às illusíons que seduzem ainda a idade viril, e todos os Seus esforços são vãos... a última hora deste homem chega por último; geralmente é precedida de uma doença, preságio e anúncio do seu fim próximo... Este homem endurece-se sempre. Um minuto antes seu último suspiro, Deus se oferece ainda a recebê-lo no Seu seio e a salva-lo das chamas do abismo... A sua palavra não tem mais força, o seu estado é desesperado. Eh bem ! é suficiente que na intimidade do seu coraçao, deixa escapar esta simples palavra: "Amo-te. Arrependo-me" esta palavra seria a sua tábua de salvação... E o pecador recusa-o com obstinação...

Nós pergunta, que pode fazer Deus? Deve, para consagrar o endurecimento da Sua criatura inverter todo o plano e todos os conselhos da Sua sabedoria, destruir as trevas por um acto todopoderoso que seria estúpido, porque um homem perdido rebentou-se os olhos, a fim de não participar na divina luz... Ah! Deus tem o direito de lavar-se as mãos e de dizer: "Oh homen, a teu perdição é a tua obra e não a Minha.Perditio tua ex te, Israel. "

Mas, porque a graça e Redempção é excluída dos infernos? - enquanto que o homem desenganado viu perecer as suas últimas ilusões, e que mede com temor toda a profundidade e a extensão da sua miséria, porque Deus não deixaria cair sobre ele um último raio da Sua misericórdia, e não daria a este infortunado uma Mão que é apreendida com um amor, uma gratidão proporcionada à imensidade da entrega?

Respondemos sem hesitar, que Deus não o pode; que não o pode pelo menos sem derogar a Sua infinita dignidade. Seria necessário que renegase da Sua própria essencia por criatura rebelde e obstinada, que, distante de ama-Lo odeia-o e maldi-lo. - A morte pôs ao pecador num estado que lhe não deixa mais escolhas: sabe, é certo de uma certitude que afoga o seu livre albedrio; continua a ser confirmado num ódio, num orgulho tão grosseiro das suas lágrimas e o seu desespero. Para suscitar nele uma lamentação salvadora e meritório, necessitaria uma graça. Ora, esta graça, não a pede, não a deseja, não a quer; em verdade odeia a sua pena, mas odeia soberanamente Deus, e ao mesmo tempo os dons e as luzes que emanam do Coração de Deus.

Mas Deus é justo, e não excede todas as proporções, punindo de uma eternidade suplícios, uma falta efémera consumida em só um momento? - aqui o razonamento é impotente, porque Deus é o mais grande dos mistérios; o pecado é um mistério também insondável que a majestade de Aquele que ofende, e a pena devida pela sua malícia é ainda um mistério sem limites que o espírito humano não chegará nunca a conhecer.

Todo o que podemos dizer, é que se considera-se a persona de Deus, a ofensa que lhe é feita com pecado é uma ofensa infinita; ora o homem. devido à sua natureza limitada, que não pode sofrer uma pena infinita em rigor e em intensidade, é de toda justiça que sofra uma pena infinita em duração. - A justiça humana é a imagem e o esboço da justiça divina. O direito de punir e castigar ao culpável de morte é conferido aos tribunais da terra para a utilidade e o bem de muitos homens. Condenam os crimes, não devido à sua deformidade intrínseca e porque ofendem Deus, mas porque são reprobavéis e prejudiciais ao bem e a boa prescrição das sociedades humanas. E contudo, têm o direito de punir de uma pena perpétua um mortal cujo crime não durou mais que um momento, de suprimi-lo para da sociedade, porque violou a ordem moral e humana. Por conseguinte, Deus tem o direito de punir de uma pena perpétua e rejeitar para sempre da sociedade celestial, o que violou a ordem universal e divina.

Não repugna de modo algum, observa São Agostiño, que Deus limite a Sua misericórdia aos anos da vida presente, de modo que, estes escoados, não tenha mais lugar perdão. Os príncipes da terra não agem do mesmo modo, quando recusam fazer graças a homens contidos nas prisões, e que testemunham-nos contudo se arrepender e uma detestação sincera dos crimes que têm cometido? Entre os sistemas diversos elaborados para conciliar a misericórdia de Deus com a justiça, o mais racional, o mais admissível, o que, à primeira vista, parece dar uma solução satisfactória formidável ao problema do destino humano, e o sistema imaginado por Pitágoras e as seitas de Oriente, que admitem, que em vez precipitar ao homem numa desgraça sem fim, Deus introduzir-o-á numa segunda fase de provas, em que haverá para ele como as precedentes, mistura de sombras e de luzes, onde o campo da liberdade ser-lhe -á aberto, onde haverá tentaçoes, divisões, luta entre Deus, que se percebe a médias e as Suas criaturas, que titubeiam ante as Suas seduçoes.

Confessemos, sem duvidar, entre todas as doutrinas opostas à do Cristianismo, a doutrina do metempsicose ou o transmigração das almas, é inegavelmente a preferível. Examinando-a de longe e superficialmente, ele parece que deixa intacta a crença em uma vida imortal, ela não parece ter infracção aos atributos divinos, nem eliminar a lei humana da sua sanção; mas, se estuda-se esta doutrina rigorosamente, é fácil reconhecer que coloca-nos em todas as dificuldades anteriores e que levanta algumas mais insolúveis ainda."Porque" como observa um famoso filósofo cristão, cujas palavras cito, "se esta segunda vida onde faz entrar ao homem, não é mais pura que a primeira; se a sua alma lá morre uma segunda vez em pecado, qual partido Deus tomará então? Será necessário que retome, com um indiscutível direito, o curso das suas transmigrações, sem que Deus possa nunca submete-lo e puni-lo, de outra maneira que dando-lhe o direito de ofende-lo sempre? Em lugar desta espantosa perspectiva que faz, do julgamento, a escolho solene da vida, o pecador se iria ao túmulo com a segurança de um transeunte que cruza um pórtico, e dir-se-ia na ironia da sua impunidade: o universo é grande, os séculos são longos, terminemos primeiro a circunavegação dos mundos e dos tempos. Passemos de Jupiter a Venus, do primeiro céu ao segundo, do segundo ao terceiro, e sucede que após espaços e períodos de tempo sen número, quando os sóis empecen-nos a faltar, apresentar-nos-emos à Deus para dizer-lhe -: "eis, a nossa hora veio, faz-nos novos céus e astros novos, porque se Você é cansado de esperar-nos, não o somos nos de maldizê-lo e passar-se de Voçê" [30 ]...

Por último, dirão, o amor é omnipotemte, tem segredos, excessos dos quais nossos corações não tem suspeita, e, qual que dissesse-se, não pode consentir a perder eternamente a criatura, obra das Suas mãos e resgatada pelo Seu sangue. Ah! o amor, poderíamos opôr-o à justiça, se fosse a justio quem punisse; mas a justiça desarmou-se, há dezanove séculos, sobre Calvário; ao pé da Cruz assinou recibo à humanidade das dívidas que esta tivesse contraído pelos seus crimes, quebrou a espada dos seus rigores para cobrar-se. Ouvimos a São Paulo "Quem é Aquele que acusará frente aos eleitos de Deus? O Deus que justifica. Qual é o que condena? Cristo Jesus, o que morreu, que é ressucitado, que está sentado à direita de Deus e que não cessa de inerceder "por nós" [31 ].

Ora, é porque condenação vem do Amor pelo que não ha Redempçao. Se fosse a justiça que punisse, o amor puder intervir ainda uma vez mais sobre a montanha e declarar: Graça, piedade, Meu Pai, salva o homem, e em troca da morte que lhe é devido, toma a minha carne e o meu sangue!... Mas, quando é mesmo Aquele, que é para nós mais que um irmão, mais que um amigo mais... que aperta este coração devorado de ternura, e converte-o num forno inesgotável de ódio, como a ingratitude do homem que operou esta transformaçao, ainda mais tremendo porque está contra a natureza, atrever-se-ia prometer-se uma esperança e um abrigo?

Oh vocês, que uma vez e outra, sobre esta terra, gostou de um amor sincero, escaldante, ilimitado, conhece as exigências e as leis do amor... o amor oferece-se muito tempo, oferece-se com insistência e com excessos, ele sofre, sacrifica-se sem reserva, baixa-se, faz-se pequeno... mas há uma coisa que torna-o implacável e que não perdona jamais, é o menospreço obstinado, o menospreço até o final.

Marchen, por conseguinte, malditos, dirá o Salvador o dia do seu Julgamento: Ite maledicti. Tinha todo feito por vocês, tinha-vos dado a Minha vida, o Meu sangue, a Minha Divindade, o Meu Ser; e a cámbio das Minha liberalidades infinitas, não vos pedia mais que esta simples palavra: Obedezo-te, amo-te. Constantemente desprezarom-Me, e so responderom aos meus adiantamentos, apenas com estas palabras: "Vai-Te. Prefiro os meus grosseiros interesses e as minhas brutais voluptuosidades..." Sejam vocês mesmos os vossos juizes, acrescentará o Salvador: Qual frase oporia ao Ser mais amado e adorado, que vos teria oposto a mesma indiferença e a mesma dureza? Não sou Eu quem condena-vos, são vocês mesmos que se condenam. Escolherom, da vossa inteira vontade, a cidade onde o egoísmo, o ódio, a revolta sentou o seu império. Volto ao Céu onde são os meus anjos, e há este Coraçao, objecto dos vossos insultos e vossos despreços. Sejam os filhos da vossa escolha, permanezam com vocês mesmos, com este verme que não morre, com este fogo que não se apaga. Tremamos, mas também agarremo-nos com viva e inquebrantável confiança ! A condenação é o obra do amor. Esta misericórdia encarnada quem fixará o nosso destino e ejecutará a eterna sentença. É, por conseguinte fácil de conjurar durante o tempo que dura a vida presente. O amor, aqui abaixo, não exige uma paridade perfeita entre a falta e a pena. Satisfaz-se com pouco, suspira, com uma ordem, com um querer... Jesus-Cristo abre-nos o Seu Coraçao, somos o preço do Seu sangue e a Sua conquista; destina-nos à eternidade, não uma eternidade de lágrimas e de sofrimentos, senão uma eternidade de beatitude que possuiremos com Ele, no seio do Seu Pai, em união com o Espírito Santo e no lar mesmo da Sua glória.

Assim seja.











[1] Et qui bona egerunt, ibunt in vitam æternam, qui vero mala in ignem æternum. Hæc est fides catholica, quam nisi quisque fideliter, firmiterque crediderit, salvus esse non poterit. (Symbol. Athanas.)

Si quis dixerit etiam post mortem hominem justificari posse, aut pœnas damnatorum in gehennâ perpetuas futuras esse negaverit, anathema sit. (Concil Vatican., Schem., const. dogm. de fide cathol.)

[2] Et fumus tormentorum eortun ascendet in sæcula sæculorum.

[3] August., ad Orosium., ch. vi.

[4] Ibunt hi in supplicium xternum, justi autem in vitam oeternam. (Mt, xxv, 46.)

[5] Poenitere de peccato contingit dupliciter, uno modo pet se, alio modo pet accidens. Per se quidem de peccato poenitet, qui peccatum quantum est peccatum abominatur. Per acciden,;, qui illud odit ratione alicujus adjuncti utpote a

poenoe vel licujus hujusmodi. Mali igitur non poenitebunt per se loquendo de peccatis, quia voluntas malitiie in eis remanet ; poenitebunt autem Per accidens, in quantum affligentur de poenâ, quant. pro peccato sustinent. (S. Tomas Quxst. xcviii, Art. 11.)

[6] Fit ergo miseris mors sine morte, finis sine fine, defeclits sine defectu : Quia et mots vivit, et finis semper incipit, et deficere defectus nescit. (S. Greg. Moral., 1, IX, ch. lxvi.)

[7] Miseria sempiterna, quoe- etiam sccunda mors dicitur ; quia nec anima ibi vivere dicenda est. quoe à vitâ Dei alienata erit ; nec corpus quod Tternis doloribus subjacebit , le per hoc durior ista secunda Mo;-r, erit, quia finiri morte non poleril. (De civit. Dei, lib. xix, ch. xxviii.)

[8] Lacordaire : De la Sanction du Gouvernement divin.

[9] Lacordaire : De la sanction du Gouvernement divin.

[10] Nicolas : Études sur le Christianisme.

[11] Per me si va nella città dolente; Per me si va nell'eterno dolore ; Per me si va nella perduta gente. Giustizia mosse l'mio fattore; Fecemi la divina potestate. La somma sapienzia, e il primo amore. Lasciate ogni speranza voi che intrate. (Dante, Inferno, cant. iii.)

[12] Dicendum est, Dæmones (idem dicatur de reliquis damnatis) in inferno privatos esse rectitudine judicii de rebus agendis, ita ut numquarn habeant verum judicium practicuni in ordine ad affectum et opus moraliter bonum. (Suarez, de Angelis, 1,viii, ch. v.)

[13] Job, x, 22.

[14] Quocumque autem modo ignis inveniatur, semper est idem in specie quiinturn ad naturam ignis pertinet. Potest autem esse divertitas in specie, quaptum ad corpora quoe sunt materia ignis : Unde flamma et carbo differtint specie, et similiter lignum igneurn et ferrum ignitum. Nec diffeït quantum ad hoc, sive ignita sint per violentiam ut in ferro apparet , sive ex prin,~ipio intrinseco naturali, ut accidit in sulfure. Quod ergo ignis inferni, quantum ad hoc quod habet de naturâ ignis. sit ejusdem speciei curn igne qui apud no; e,;t, manifestuan est. Utrum autem ille ignis sit in propriâ materiâ existens, aut sit in alieni, in quâ materiâ sit, nobis ignoturn est et secunduni hoc, potest ab igne qui apud nos est, specie differre. (Quoest. xcvii, art. 6.)

[15] S. Marc, ix, 48.

[16] Ignis scitipiteini nitura iliversa est ab hoc nostra, quo ad vitæ necesaria utimur, qui nisi, alicujus materke fonlite alatur, extinguitur. file divinus pcr scipsum semper vivit ac viget, sine ullis alimentis, nec admixtum liabet fumurn, sed est purus ac liquidus, et in aquæ modum fluidus. (Lactane, Divin Instit., liv. vii, ch. xxi)

[17] Is, xxxiii, 14.

[18] Cur non dicamus, quamvis miris tamen veris modis, etiam spiritus incorporeos posse poena corporalis ignis affligi. Si spiritus hominum etiam ipsi profecte, incorporei et nunc potuerunt corportim suorum insolubiliter ailligari ? Adhoerebunt ergo, etsi eis nulla sunt corpora, sipiritus doeinonum, imo spiritus doemoncs, licet incorporci, corporeis ignibus cruciandi. (Aug., De civit. Dei, XXI, X.)

[19] Si ignis naturaliter per suum calorern potest affligere spirituni hominis, mediante corpore, cur idem ignist ut instrumentum Dei non poterit ailligere spiritum sine ullo corpore medio 7 Corpus enim solum se habet ut medium, per quod immediate calor spiritui applicatur, ut ejus presentià vi sentiendi percipiatur. Deus autem non eget aliquo medio, omnern medii effectum et refectum supplere potest. (Lessius, de Divin, Perfect., 1, XIII, ch. xxx.)

[20] Angelus misit et clausit Diabolum in abyssum. (Ap. xx.)

[21] Stagnum ignis. (Apoc. xx.)

[22] Est inferior locus in imo terroe positus, poenis damnatorum proeparatus. (Hug. de S. Victor., lib. 11, de sacram.)

[23] Augustinus in libro XII. Sup. Gencs., duits rationcs langerc vidctur, quare co~gruum est infernurn esse sub terra. Una est, ut, quoniani defunctorurn ;inim;c carnis more pecciverunt, hoc eis exhibeatur quod ip;i carni mortum solet exhiberi, ut scilicet sub terra recludantur. Alia est quod, sicut est gravitas in corporibus, ita tristitia in spiritibus, et loetitia ~,icut levitas ; unde sicut, secunduin corpus, si ponderis sui ordincin tencant, infeiiora sunt onini-i graNiora, ita secunduin spiritum, inferiora sunt tristiora. Et sic, sicut comeniens locus gaudio efectorum est coelurn evipyveurn, ita comeniens locus tii,,66oe damnatoruin est infimum terroe. (D. Th. Somm., Qwes. xcviu, art. 7..)

[24] Crisost.. Hom. in Epist. a Rom., 4, 5.

[25] Objecta-se que o centro da Terra não poderia conter a multitude dos homes condenados. Mas, como observa Suarez, após a Resurreição, o inferno será agrandado com todo o espaço do Purgatório e os limbos das crianças mortas sem batismo, que quedarão vazias. As crianças mortas sem batismo jamais verão a Deus: mas varios Doutores emitem o sentimento de que eles habitarão sobre a superfície da Terra, onde eles disfrutariam de uma felicidade simplesmente natural. Em quanto à Terra, o seu volume pode-se agrandar e o abismo dilatar-se tanto como seja necessário de acordo com esta palavra de Isaias: Dilatavit infernus animam suam.

[26] Isaias, v, 4.

[27] Bonum erat ei si natus non fuisset homo ille. (Mt., xxvi, 24.)

[28] Et nolite timere cos qui occidunt corpus, anirnarn non possurit occiderc: sed potius timete eum qui potest et animam et corpus perdere in gchennarn. (Mt., x, 28.)

[29] Ecl., I, 16.

[30] Lacordaire, De la Sanction du Gouvernement divin.




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